EDUCAÇÃO MIDIÁTICA

O que é Educação Midiática?

O debate em torno de uma educação para as mídias não é recente e se desenvolveu quase que paralelamente ao crescimento das mídias de massa desde o início do século XX.

Nesse sentido, esse debate expressa a preocupação de pesquisadores e educadores em relação a como essas mídias estão sendo percebidas e consumidas pelo público, sobretudo os jovens.

Para saber mais sobre esse histórico:

Educação para a mídia: da inoculação à preparação (Siqueira, 2008)

Mídia-educação: conceitos, história e perspectivas (Bévort; Belloni, 2009)

Mídia-educacão: aspectos históricos e teórico-metodológicos (Fantin, 2011)

Atualmente, em um mundo hiperconectada e vastamente mediada por telas, as abordagens em torno da educação midiática (ou mídia-educação) dizem respeito a um processo de apropriação crítica e criativa para avaliar ética e esteticamente o que está sendo oferecido pelas mídias e para interagir significativamente com os produtos midiáticos, considerando seu papel central na arena de disputas pela construção de significados e concepções de mundo.

Dica de Leitura

Essa obra de 2007 aborda a nossa época de onipresença das telas no cotidiano. A arte, o saber, a comunicação, nada mais escapa às malhas digitais dessa lógica. Nesse contexto, somos cercados por uma constelação de formas de audiovisual. Para os autores, os contornos dessa nova esfera telânica devem ser entendidos a partir da análise da forma original da tela: o Cinema. Assim, o Cinema se configura infinitamente mais poderoso e global, sendo a forma matricial de outras formas audiovisuais que se exprimem fora dele.

Educação Midiática hoje

Conforme afirma o renomado professor e pesquisador britânico David Buckingham, em seu manifesto pela educação midiática, esta se tornou um pré-requisito básico da cidadania no contexto social contemporâneo. Mas o autor defende que não consiste em usar a mídia ou a tecnologia como ferramentas. Na verdade, a educação midiática se preocupa sobretudo em desenvolver o pensamento crítico.

Ou seja, é fundamental entender que a adoção de um ponto de vista crítico é importante para que as pessoas possam fazer suas interpretações de forma mais fundamentada em relação às mídias. Como aponta Buckingham, o pensamento crítico leva a análise e avaliação das informações, pressupõe o questionamento formas e padrões, suas relações com o que está incluído e excluído, assim como suas implicações. Portanto, trata-se de proporcionar as ferramentas críticas para que os indivíduos possam realizar suas reflexões de forma autônoma.

Manifesto pela educação midiática

(David Buckingham, 2022)

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No Reino Unido, uma das referências mundiais no assunto, essas ferramentas foram sintetizadas em quatro conceitos-chave para direcionar a educação midiática.

(Adaptado de Buckingham, 2022)

Todo meio de comunicação tem sua própria linguagem para transmitir sua mensagem e, consequentemente, significados. Dependendo da mídia, essas linguagens podem incluir elementos verbais (falas e escrita) e não verbais (visuais e sonoros). Ou seja, são códigos e convenções que carregam determinado sentido, para evocar determinados sentimentos.

Nesse sentido, estudar as linguagens midiáticas significa:

Entender como cada mídia usa diferentes linguagens ou sua linguagem específica para transmitir ideias e significados.
Esclarecer como esses usos tornam-se familiares e aceitos, como se estabelecem as “regras” e o que acontece quando elas são quebradas.

Mesmo quando supostamente se volta para eventos da vida real (como noticiários e documentários), a produção de mídia sempre vai envolver selecionar o que vai ser mostrado, construir uma visão sobre aquele assunto, com argumentos e, às vezes, criando personagens. Logo, toda mídia não é uma visão objetiva sobre o mundo, mas uma versão mediada.

Nesse sentido, estudar as representações midiáticas significa:

Entender como as mídias realizam seu discurso, o que escolhe incluir e excluir, como escolhe representar pessoas, grupos, eventos e o quão próximas ou distantes da realidade estão essas representações.
Refletir sobre quais as prováveis consequências dessas representações sobre as atitudes, valores e crenças do público.

Toda mídia é obra de criação, fabricada conscientemente por indivíduos. Na maioria dos contextos, indivíduos que fazem parte de uma organização ou grupo. No cenário econômico capitalista mundial, grande parte desses grupos produzem mídia como mercadoria, produtos que visam lucro comercial. Portanto, os contextos de produção implicam diretamente sobre as mídias.

Nesse sentido, estudar as produções midiáticas significa:

Examinar os contextos de produção das mídias, ou seja, quem está produzindo e com quais valores dialoga; que tecnologias estão envolvidas na produção e distribuição; como se dão as relações de trabalho nessa produção.
Investigar como essas mídias são reguladas e como atingem o público, ou seja, o grau de escolha e controle desse público sobre as mídias.

Os produtos de mídia precisam competir pelo interesse das pessoas, sobretudo no mundo hipermidiático atual. Desse modo, os produtores de mídia buscam filtrar ou moldar os diferentes grupos que pretendem atingir, mas nem sempre é possível explicar porque algo se tornar popular. Portanto, é preciso entender não apenas como as mídias definem seu público, mas também como esse público recebe as mídias, como as interpretam e reagem a elas diante de suas subjetividades.

Nesse sentido, estudar o público midiático significa:

Investigar como a mídia aborda seus públicos, as pressuposições que os produtores fazem sobre esse público e como busca atingi-lo através de diferentes canais e tecnologias.
Entender como as pessoas utilizam as mídias em seu cotidiano, como as interpretam, como tiram prazer delas, e como esses processos dialogam com suas identidades de gênero, classe, raça, etnia, idade etc.